SIMÃO SABROSA
O último «capitão» deixa assim o nosso Glorioso clube, sem que seja permitido aos benfiquistas homenagear o seu mais emblemático jogador dos últimos anos. Talvez porque Rui Costa é um anestésico suficientemente poderoso para nos distrair do passado recente…
É preciso não esquecer o que Simão representou para o Benfica, as alegrias que deu aos adeptos com o seu futebol espectacular e os títulos que ajudou a conquistar com a águia ao peito. Ele foi o elemento chave da recuperação da mística do maior clube de Portugal.
Por tudo o que nos deste, obrigado Simão. Bem haja, e de pé, te aplaudimos.
Se assim tiver mesmo de ser, um até breve.
Tão perto e tão longe
Israel está a bombardear o Líbano desde o passado dia 12, no que diz ser uma resposta ao sequestro de dois soldados seus pelo Hezbollah. A operação, segundo o chefe de Estado Maior adjunto do exército israelita, general Moshé Kaplinski, deverá prolongar-se pelo menos por mais uma semana. No encerramento desta edição, o número de mortos ascendia já a duas centenas e meia, enquanto a destruição de edifícios e infra-estruturas (pontes, estradas, aeroporto, centrais de electricidade e abastecimento de água, entre outras) prosseguia a um ritmo devastador. Longe do cenário de guerra – onde não chega o cheiro a sangue, nem os gritos de dor, nem os estilhaços das bombas, nem o som das derrocadas, nem o aguilhoar do medo sem medida –, lá longe, dizia, a União Europeia condena os ataques do Hezbollah e o rapto dos dois soldados israelitas, exigindo a sua libertação imediata, e pede «contenção» a Israel, cujo direito à autodefesa não contesta. Igualmente longe do cenário de guerra – onde as imagens das crianças mortas, se é que chegam, causam tanta emoção como as das chacinadas alegremente por heróis de jogos de vídeo; onde a dor sem remédio de perder um filho é medida por bitolas que distinguem aliados de adversários; onde os direitos de uns não fazem sequer sentido fora do âmbito dos interesses de outros –, lá longe, dizia, o Conselho de Segurança da ONU não conseguiu sequer produzir um comunicado sobre a situação no Líbano, já que os EUA rejeitam a exigência de um cessar-fogo até que Israel dê por concluída a «operação» que está a levar a cabo. Mais longe ainda do cenário de guerra – e todavia tão próximo dos que usam e abusam do poder de exterminar povos, invadir países e semear a destruição –, lá longe, dizia, na cimeira do G8, Bush e Blair mostraram involuntariamente ao mundo como de facto encaram a carnificina que está a ser cometida no Líbano, ao falarem sem dar conta que os microfones (e as câmaras) da reunião estavam ainda ligados. «O que é preciso é envolver a Síria, de forma a que o Hezbollah pare de fazer merda e pronto», disse Bush, mais preocupado em regressar a casa do que com os mortos no Líbano ou em qualquer outro lugar do planeta. Amanhã, como ontem, a Casa Branca e as centrais de desinformação farão saber que o «eixo do mal» – para o caso Síria e Irão – são os verdadeiros responsáveis pelas vítimas das bombas israelitas e que não há vida que valha os interesses do império. Enquanto isso, Israel vai continuar a sacrificar os seus próprios filhos, distinguindo-os apenas com a duvidosa honra de considerar que o seu sangue derramado vale infinitamente mais do que o sangue dos filhos alheios, pelo que por cada um que tombar há que matar centenas de outros. Esta contabilidade macabra não resgatará nenhum da morte, não aliviará a dor do luto, não encherá o vazio da perda, mas contribuirá sem dúvida, como até aqui, para estimular o ódio e alimentar a intolerância mútua. Longe, muito longe das bombas e das vidas ceifadas, os senhores da guerra e seus acólitos congratulam-se. As armas vendem-se como tremoço, o petróleo sobe, os lucros aumentam, o negócio vai bem e recomenda-se.