quarta-feira, maio 31, 2006

CRÓNICA DE UM FÃ DE GUNS (2)

segunda parte
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«Appetite for Destruction» é ainda hoje, para mim e para muitos fãs de rock´n´roll, um dos momentos mais altos da história da música popular. Não posso precisar, à distância de já quase duas décadas, o que senti ao ouvi-lo das primeiras vezes, mas recordo ainda de forma impressiva um início de tarde televisiva na RTP 1 (naqueles tempos havia apenas mais um canal!), talvez no verão de 1989, em que o canal público de televisão colocou no ar um concerto de Guns n´Roses no Ritz de Nova Iorque em 1988 (pode parecer estranho, mas aquele concerto numa sala cheia de fumo, embalada ao som de guitarras carregadas de distorção, com «stage diving» do vocalista e penetras em palco, passou a seguir a um telejornal da uma da tarde, vá-se lá saber como e porquê – palavra de honra!). Absolutamente louco e contagiante, carregado de gaffes e com uma naturalidade estonteantemente agressiva, contemplando só os temas de «Appetite» (a versão integral do concerto existe em registo audio num cd intitulado «Reflexion», contendo alguns temas extra versão televisiva, como «Knockin´On Heavens Door», «Mamma Kin» e o inédito «Shadow of Your Love») que continuava regularmente a ouvir, aquele concerto pareceu-me o melhor cartão de visita que os Guns podiam apresentar aos seus fãs, ou quase fãs.

A partir daquele momento, a minha paixão por «Appetite» cresceu e depressa me levou a comprar o vinil de «Lies». Ouvi ambos até à exaustão e, à época, começava também a ceder às baladas, tidas até aí, pela minha pose “metaleira”, como peças secundárias. As hormonas que o expliquem provavelmente, mas «Sweet Child O´Mine» e Patience» passaram a figurar na minha lista de temas mais ouvidos e a embalar os momentos de descoberta e de despertar para uma nova vida.

Ainda hoje, quando ouço «Appetite» dou-me como surpreendido. O velho lado A da versão em vinil, de «Welcome To The Jungle» a «Paradise City», continua a ser qualquer coisa de notável. Pela produção de Mike Clink, pelos solos violentos e simultaneamente melódicos de uma clássica Les Paul nas mãos de Slash, pela rudeza punk do toque de palheta de Duff no baixo, pela guitarra ritmo seca e carente de preciosíssimos de Izzy Stradlin e, obviamente, pelo desespero e violência urbana lançada em cada palavra cantada por Axl Rose. Até o limitado Steven Adler na bateria brilha! – ele que seria o primeiro a abandonar a banda, consta que, por estar cada vez mais mergulhado no poço fundo da heroína. De todo aquele álbum, só «Think About You» ou «Anything Goes» parecem estar um pouco fora do contexto. As grandes canções estão todas lá, e longe de mim imaginar que, em versão mais soft (felizmente!), «Mr. Brownstone» assentaria como uma luva enquanto banda sonora de um determinado período da minha vida.

A loucura Guns n´Roses estava prestes a dominar o mundo. «Appetite» fora um dos álbuns mais vendidos nos Estados Unidos em 1988 (só batido nos tops pelo trabalho de uma boys band chamada New Kids On The Block), porém, na Europa, pouco mais que a família dos «metaleiros» ouvira falar da banda de Slash e Axl Rose. «Lies» (sobretudo devido a «Patience») e uma muito divulgada actuação dos Guns no
Rock In Rio (de Janeiro) em 1990 (donde saiu a versão de cd single do «Knockin´On Heavens Door») foram abrindo caminho ao fenómeno planetário que recuperaria o rock (não FM) para os tops, secundarizaria a decadente pop dos anos 80 e tornaria bandas outrora vistas como confinadas a públicos muito específicos em autenticas máquinas de vender discos. Os «Illusion» marcavam essa grandiosa aposta da indústria discográfica: pela primeira vez na história da música, uma banda lançava simultaneamente dois álbuns duplos. Foi, se não me engano, em Setembro de 1991. Os Guns lançavam-se aos palcos do mundo, rodeados de mitos, de escândalos e de lendas. Tudo sob os auspícios de uma máquina promocional de eficácia extrema que os tornava os pontas de lança de um rock´n´roll renascido para a vida.

Mas, para os fãs mais antigos da banda, a primeira baixa de vulto acontecia: Izzy Stradlin, após o lançamento dos «Illusion» abandonava a banda e abraçava uma carreira a solo. Nunca se soube ao certo a verdade por detrás das estórias contadas, mas consta que, por achar que os Guns já eram demasiado grandes para ele, Izzy decidiu abandonar o projecto. A outra versão estórica garante que o ambiente entre os músicos era absolutamente destrutivo, sobretudo as relações mantidas entre a banda e a «vedeta» Axl Rose. O certo é que sem Izzy, os Guns deixaram de fazer novos temas, ou não fosse ele responsável por mais de metade das canções da banda. A Matt Sorum, ex-Cult, que substituira Adler durante as gravações dos «Illusion», juntava-se um novo membro para a digressão mundial, o guitarrista Gilby Clarke. Sem qualquer pista para o prevermos na euforia do fenómeno, os Guns n´Roses no auge eram já uma banda com os dias contados!
(continua)
PRIMEIRA PARTE AQUI

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estás decidido a fazer uma história dos Guns, Red?
Vai fazendo k eu vou lendo. :)


Abraço marado

maio 31, 2006  
Anonymous Anónimo said...

´Tão migo?

Estou ansiosa pra continuar este regresso ao passado.
Jocas,

junho 01, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Então? Continuamos à espera da III parte...

junho 05, 2006  

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