SERÁ EM TRÂNSITO
PARA HAIA?
Uma Crónica do EL TERRORISTA
Henry Kissinger está hoje em Portugal, mas não em trânsito para o Tribunal Penal Internacional de Haia. A convite do «Diário Digital», vem para falar sobre o Irão e o Médio Oriente num designado “almoço-conferência". Ora, se bem me lembro, Kissinger visita-nos cerca de sete anos volvidos sobre o referendo que permitiu aos timorenses a independência do ocupante indonésio. Talvez por isso, convenha lembrar as pessoas amigas do povo timorense (que não vive, infelizmente, dias tranquilos) que foi este homem, recebido esta manhã pelo Presidente da Assembleia da Republica Jaime Gama e pelo Presidente da Republica Portuguesa Aníbal Cavaco Silva, amigo intimo do regime de Suharto na operação de ocupação daquele antigo território português, corria o ano de 1975.
Em Dezembro de 2001, estava ainda Timor bem vivo no seio dos corações lusos, o mesmo órgão de comunicação social que agora traz a Portugal Kissinger, publicava:
«Os documentos oficiais dos Arquivos de Segurança Nacional revelam de forma contundente que Gerald Ford e o então secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, foram informados pelo próprio Suharto das suas intenções horas antes da invasão. É que o ex-mandatário indonésio, sugere o texto, esteve em contacto com a Casa Branca a 6 de Dezembro de 1975, a véspera da operação.» clica
Apenas cinco anos depois, a redacção refere-se ao ilustre convidado como: «
o responsável máximo pela diplomacia norte-americana entre 1973 e 1977, durante os mandatos de Richard Nixon e Gerald Ford como presidentes dos Estados Unidos.
Kissinger foi distinguido com o Nobel da Paz em 1973, juntamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros vietnamita, Le Duc Tho, pelo acordo que pôs fim à guerra do Vietname. Adepto da realpolitik, Kissinger foi um dos principais defensores da política de détente, que se traduziu no desanuviar das tensões entre Washington e Moscovo e, mais tarde, Pequim.» clica
Por isto, e muito mais, convém elucidar os mais distraídos para o facto de Henry Kissinger não ser só o «Prémio Nobel da Paz 1973». Nesse ano, foi o alto responsável pelo golpe de Estado sangrento no Chile que depôs o presidente democraticamente eleito Salvador Allende. Em seu lugar, um homem da confiança de Nixon e Kissinger, o sanguinário ditador Augusto Pinochet.
Obreiro directo de quase toda a política norte-americano de finais de 60 a inícios de 80, destacada figura nos corredores do poder político e universitário ainda hoje, Kissinger é um criminoso político, ligado a ditaduras, golpes de Estado, chacinas e assassinatos. A demonstrá-lo, os arquivos de Estado norte-americano referentes aos anos 70 e obras como «The Trial of Henry Kissinger» de Christopher Hitchens.
Nalguns países do mundo, Kissinger corre o risco de ser preso. Contra ele existem inúmeras acusações de crimes perpetrados contra cidadãos de países da América Latina e da Europa. Em Portugal, pagam-lhe cachet, dão-lhe almoço, prestam-lhe reverência e ficamos a saber que os dois mais altos dignitários da nação lhe beijam a mão e ocupam parte do dia convivendo com um criminoso. O pobre Carmona Rodrigues até vai ao almoço fazer de cicerone - será que lhe disseram que era o Giulliani?
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